7 livros que me fizeram ser escritora
Aqueles livros que mudaram tudo o que eu achei que sabia sobre literatura
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Eu sempre amei os livros.
Sabe aquela criança que lia em todos os momentos do dia, que comia lendo, que caminhava lendo, que a mãe castigava tirando os livros? Eu era assim. Aliás, não me lembro de ter sido de algum outro jeito.
Num episódio de Os Simpsons, Homer discute com Lisa sobre algo bobo e pede para ela, pelo amor de Deus, ir ler um livro. Ofendida, Lisa diz que lê livros assim como o pai bebe cervejas. Homer diz que, então, ela tem um sério problema de leitura.
Como a Lisa, descobri que meu problema de leitura é severo. Ainda bem, porque não existo sem a palavra escrita. Preciso dela, sou obcecada por ela e decidi dedicar minha vida a ela.
Resumindo, escrever é a minha vida. Por isso, separei 7 livros que me fizeram ser a escritora que sou hoje, dizendo com a clareza que sempre busco em todos os meus textos, o que cada um me ensinou de tão especial para entrar nesta lista.
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Mas vamos aos livros. Começando por ele, o maioral:
Reparação, de Ian McEwan
Esse é, disparado, o livro da minha vida.
Sabe aquele livro que habita o fundo das suas ideias, que a história nunca parece se esgotar a cada releitura? Para mim, é Reparação. Como dizem por aí, ele é o meu Império Romano, Inca, Asteca, Britânico e todos os outros.
Vencedor do Booker Prize de 1998, Reparação é um romance de respeito. Em linhas gerais, a trama é simples: no verão absurdamente quente de 1935, Briony, uma menina de treze anos, vê uma cena entre a irmã mais velha e o filho da governanta. Isso a leva a cometer um crime que vai alterar a vida de todas as personagens.
O filme, Desejo e Reparação (2007), dirigido por Joe Wright, é igualmente brilhante. Apesar de mudanças sutis, indico de olhos fechados.
Reparação me ensinou a importância de ter clareza nas descrições, de manter o controle narrativo, de pensar nas personagens como um organismo vivo, capaz de se expandir ou de se retrair conforme o ambiente e as ações das outras personagens, e que toda boa narrativa precisa ter um final bem desenhado.
Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector
Ela não podia faltar na lista.
Clarice entrou na minha vida ainda na adolescência, quando li o conto O Crime do Professor de Matemática, e fiquei obcecada pelo debate moral tão simples e tão complexo que ela propunha. Mal sabia eu que seria sugada por Clarice nos anos seguinte.
Em Perto do Coração Selvagem, acompanhamos Joana, uma jovem que deseja romper barreiras e se aproximar do "coração selvagem da vida". É um romance de formação que utiliza a técnica de fluxo de consciência de forma magistral.
Esse livro me ensinou que boas metáforas precisam ser cristalinas como o mar, que personagens protagonistas, quando bem construídas, precisam deixar o leitor um tantinho desconfortável, e que a ficção é, em grande parte, tentar responder perguntas sem respostas.
As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides
Li esse durante a pandemia, e penso nele até hoje.
Se você nunca ouviu falar sobre, a trama é a seguinte: num subúrbio dos EUA, lá pela década de 1970, cinco irmãs se suicidam em sequência, sem motivo aparente. Anos depois, os meninos da vizinhança relembram os acontecimentos da época, suas paixões pelas irmãs Lisbon e buscam as causas da tragédia.
Sofia Coppola — sempre ela — dirigiu um filme que captura bem a vibe do livro.
As Virgens Suicidas me ensinou que uma boa narrativa é sobre construir cenas, sobre maximizar detalhes e, principalmente, sobre pensar no que cada momento deixa de presente pro leitor. Além disso, também me provocou a pensar em como deixar a voz do narrador cada vez mais única, cada vez mais precisa.
As Ligações Perigosas, de Chordelos de Laclos
Um clássico é um clássico.
Lido pela primeira vez durante a adolescência, por indicação da minha mãe, As Ligações Perigosas foi o livro que me fez uma apaixonada pela literatura francesa. Escrito todinho em cartas, lá no ano 1782, é um livro delicioso e terrível em todos os sentidos.
Na França pré-revolucionária, a marquesa de Merteuil pede ao ex-amante, o visconde de Valmont, uma favorzinho inocente: que ele seduza a jovem — e inexperiente — futura esposa de um antigo amante que, agora, é desafeto da marquesa. O visconde aceita a proposta, mas, primeiro, tem a intenção de seduzir uma mulher casada e devota. Coisa leve.
Se você gostou da premissa, mas tem um certo receio com os clássicos — acontece —, a melhor adaptação cinematográfica que já vi é a de 1988, com John Malkovich, Michelle Pfeiffer e Glenn Close.
Contudo, se você é como eu, uma noveleira apaixonada por produções nacionais, a Globo fez uma minissérie do livro, adaptando a narrativa para o contexto brasileiro de 1920 (!), com Marjorie Estiano, Patrícia Pilar e Selton Melo (!!!!!) nos papeis principais.
Esse livro me ensinou que as relações, na ficção, precisam ser complicadas, que as personagens não devem ser sempre boazinhas e que o leitor, até o mais comedido, adora ler sobre prazeres ilícitos e relações de poder desiguais.
Sem Trama e Sem Final, de Anton Tchekhov
Achou que não ia ter nenhum livro falando sobre escrita, né? Achou errado.
Sempre admirei Tchekhov pela clareza da prosa, pelas descrições sucintas e por jamais ter abandonado a sua profissão de médico para se dedicar à escrita. Aliás, se você quiser uma dica, leia os contos dele e, depois, leia a novela O Duelo. Prometo que vai ser uma experiência incrível.
Mas vamos voltar ao livro.
Sem Trama e Sem Final é uma reunião de fragmentos de cartas do autor sobre o ofício da escrita, dando conselhos sobre tudo. Sério. Tchekhov escreve sobre personagens, enredo, contos, novelas e tudo o que diz respeito ao universo da literatura.
Mas os ensinamentos que mais grudaram em mim foram esses: a importância de ser breve e de não mexer *tanto* no texto. Tchekhov é cirúrgico com as palavras, preciso como um bisturi.
Se você escreve, esse livro é parada obrigatória, viu?
Escrever Ficção, de Luiz Antonio de Assis Brasil
Ele não podia faltar na lista.
Posso dizer que fui uma das privilegiadas por ter aula com o cara que, basicamente, inventou o conceito de Escrita Criativa no Brasil. Além de todo o conteúdo, o professor Assis Brasil é um gentleman.
Em Escrever Ficção, o professor — em colaboração com outro professor meu, Luís Roberto Amabile — expõe os pilares de sua teoria acerca do fazer literário, mais especificamente, sobre a escrita de romances.
O professor Assis me ensinou aquilo que, hoje, é a espinha dorsal da minha literatura: a personagem é a história. Nada existe sem ela, nada pode vir a existir sem ela. Também aprendi com ele que o planejamento é o melhor amigo de um escritor, inclusive antes mesmo de uma história nascer.
Apesar de alguns pontos da teoria do professor não se encaixarem com o tipo de literatura que produzo, ele sempre vai ser uma referência para mim.
A Arte do Romance, de Virginia Woolf
Quem tem medo de Virginia Woolf? Eu, com certeza, não.
Confesso que li poucas obras ficcionais da autora, mas fui capturada pelos ensaios dela desde muito jovem. Virginia Woolf tem um jeito único de pensar sobre literatura.
Em A Arte do Romance — pela edição da L&PM, ou Mulheres e Ficção, pela da Companhia das Letras —, temos uma reunião de ensaios sobre literatura e, principalmente, escrita. Alguns podem ser bem datados, mas dê uma chance.
Virginia Woolf não influenciou a minha literatura de forma direta, mas me fez pensar no meu papel como escritora, naquilo que quero dizer como uma mulher que escreve.
Só por isso, já merece um lugar de destaque.
Esses foram os 7 livros que me fizeram ser a escritora que sou hoje. Se você também escreve, me conta aí — nos comentários, por email ou em qualquer rede —, qual foram os livros que transformaram você em alguém que escreve.
Muito obrigada por ler o Cafezinho.
Até a próxima! :)
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